sexta-feira, 23 de novembro de 2012


“Vou dizer uma coisa banal: sem o mito do amanhã não existiríamos. Não fora o amanhã secaríamos à beira dos caminhos. O amanhã é que fermenta o hoje, que fermenta o ontem. Por que migram as aves sobre os oceanos? Por que os peixes sobem cachoeiras procurando as nascentes do futuro? Os animais, aves e insetos ao redor, nos dão lição de aurora. A trepadeira no terraço, que avança dois-três centímetros cada jornada, seguindo o fio de náilon do tempo, me ensina a direção das coisas. O vento sopra pelas costas de suas folhas e ela navega verde na pilastra como uma caravela reinventando seu concreto mar. O suicida é o que decretou a morte do amanhã. O idealista é o viciado que toma o amanhã nas veias, aspira-o, esfrega-o nos olhos e gengivas. No entanto, dizemos: “está difícil”, “a vida está dura”, “assim não é possível”, “esse país não tem mais jeito”, mas no dia seguinte, amarfanhados, caminhamos junto ao mar para saudar a aurora. Sábia é a natureza, nos dizem. Olhai os lírios do campo, eles passam a vida tecendo e fiando a manhã. E o jardineiro que parece um perverso podador, tão-somente antecipa a floração da vida com suas lâminas de dor. Em busca do amanhã as cobras perdem sua pele. Penas caem na muda da plumagem airosa dos airões. Em busca do amanhã uma nave passou por Marte e segue rumo a Urano. E se acabarem com o amanhã aqui, ele continuará com outros seres menos ferozes em outras galáxias, mais humanas, talvez. Deus é o renovado amanhã. E o ano mais uma vez termina. E estamos comendo e bebendo as horas que faltam e ansiando por um novo dia. Oh, amanhã! Os que vão viver te saúdam.”

— Na espera do amanhã.

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